sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

CUIDAR dos PAIS não significa INVERTER papéis, mas ZELAR por eles

Envelhecer é um processo natural, gradativo e contínuo. Mas, nem por isso, a chegada da terceira idade, aos 60, deixa de ser assustadora para boa parte das pessoas.
Mesmo sabendo que o envelhecimento é o único meio de viver por muitos anos, os idosos nem sempre se conformam com as limitações físicas –e, às vezes, psicológicas – que a passagem do tempo impõe.
Para os filhos, o processo também não é dos mais fáceis, já que eles se deparam com a necessidade de ter cuidados com aqueles que dedicaram a vida para criá-los.
Para a assistente social Maria Angélica dos Santos Sanchez, coordenadora do curso de gestão em saúde do idoso da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), o filho transita mais facilmente por essa nova fase quando se recusa a acreditar numa sentença já muito difundida, a de que ao envelhecermos, viramos crianças novamente.
Pensar dessa maneira, segundo ela, leva à infantilização do idoso. “Jamais seremos pais de nossos pais. Se estivermos com 50 anos, cuidando de alguém com 80, precisamos nos lembrar que essa pessoa sempre terá 30 anos a mais de experiência”, declara.
Ela reforça que o respeito deve continuar sendo a base da relação entre pais e filhos, não importa a idade. “Depender de ajuda para atividades diárias, por conta de alguma patologia, não tira da pessoa toda a história de vida construída. Mesmo nos casos em que a cognição está comprometida, é preciso respeitar, na medida do possível, a vontade do outro”, diz Maria Angélica.
Isso significa que qualquer decisão a ser tomada, que envolva mudanças na vida do idoso, precisa ser combinada com ele. “A comunicação é muito importante. O ideal é conversar para entrar num consenso e não tolher as opiniões do outro. É preciso explicar os prós e contras de cada alteração na rotina”, explica o geriatra Alexandre Busse, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Em casos em que o idoso não está mais apto a decidir, por conta da perda de lucidez parcial ou total, os filhos podem tomar a dianteira, mas sem deixar de respeitar a história de vida, a personalidade e os hábitos daquela pessoa.
Como regra geral, é preciso intervir apenas quando a rotina do idoso desanda. “Se o indivíduo mantém suas atividades de vida diária preservadas, sem prejuízos para o seu cotidiano, podemos considerá-lo saudável. O envelhecimento patológico apresenta, necessariamente, uma desordem cognitiva”, diz a gerontóloga Sandra Rabello, coordenadora de curso de cuidadores de idosos da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Para perceber se há ou não há um problema, é preciso observar as tarefas realizadas atualmente pelo idoso e ver se a forma de agir mudou muito. “Algumas perguntas a serem feitas são: a casa continua com a arrumação que costumava ter? Tem comida antiga na geladeira ou falta comida no armário? As caixas de medicação estão com os comprimidos usados na dose adequada? O autocuidado parece adequado? As panelas estão com marcas de queimado? Os armários ou gavetas parecem muito desorganizados?”, exemplifica Maria Angélica.
Vale também reparar se o familiar deixou de fazer alguma atividade por vontade própria ou por dificuldade motora ou cognitiva.
Quando as alterações são confirmadas, o melhor a fazer é levar o idoso a um médico geriatra, que fará testes para analisar as reais capacidades da pessoa, além de dar as recomendações específicas.
No geral, o ambiente em que o idoso mora também deve ser pensado para não oferecer perigo. É recomendável evitar tapetes, fios espalhados e pisos escorregadios. Também vale adaptar móveis que tenham quinas ou sejam altos demais e que dependam do uso de bancos ou escadas para serem alcançados. O excesso de mobília e a iluminação fraca precisam ser, igualmente, repensados.
Os idosos que moram sozinhos precisam de acompanhamento. Porém, segundo Sandra Rabello, é preciso respeitar a independência e a individualidade deles, garantindo, ao mesmo tempo, proteção e assistência.
Uma medida importante é manter, em casa, cadernos de telefones atualizados, com nomes dos principais médicos e outros profissionais que atendem o idoso, para casos de emergência, além dos endereços e telefones dos filhos.
“Também recomendo deixar em local de fácil acesso o cartão do plano de saúde e os documentos do idoso”, diz a geróntologa. Outro cuidado é manter contato frequente com pessoas que estão próximas do idoso, como vizinhos ou o zelador do prédio. “Hoje em dia, existem empresas que instalam um aparelho em casa, com um botão de emergência que pode ser acionado rapidamente, em caso de necessidade. É uma medida reconfortante para os filhos e que dá segurança ao idoso que mora sozinho”, diz o geriatra.
O fato de o idoso já não conseguir mais desenvolver como antes algumas atividades não deve ser suficiente para convencer os filhos de que ele se tornou incapaz de assumir qualquer tipo de tarefa cotidiana. “É errado os filhos quererem superproteger os pais. Algumas capacidades realmente diminuem pelo desuso. Mas é preciso deixar que o idoso continue fazendo o que ele sabe”, diz Busse.
A dica é oferecer ajuda, mas não agir por ele, para preservar a autonomia do idoso. Assim, se ele já não consegue mais ir ao mercado, o filho pode se oferecer para fazer as compras, desde que o pai fique responsável pela lista. Da mesma forma, a dificuldade para se vestir não impede que o idoso escolha o que quer usar.
A medicação diária é um ponto que merece atenção. Para os pais que esquecem de tomar os remédios esporadicamente, a estratégia é colocar uma tabela com os horários de ingestão em um local visível, como a geladeira. Ou, ainda, separar os medicamentos em caixinhas para cada dia da semana e ligar para o familiar, lembrando-o de tomar.
“Se essas iniciativas não funcionarem, será preciso entender a raiz do problema. Muitos idosos relutam em ingerir determinados comprimidos por não estarem conseguindo engolir. Nesse caso, é necessária uma avaliação profissional”, diz a assistente social. Visitas e telefonemas periódicos são fundamentais, tanto para acompanhar o estado de saúde da pessoa quanto para preservar os laços afetivos.
Cuidados profissionais
Quando o idoso chega ao ponto de depender de outra pessoa para todas as atividades básicas, como se locomover, tomar banho e se alimentar, ou, então, diante de doenças degenerativas, como Alzheimer e Parkinson, muitas famílias consideram contratar um cuidador profissional.
A medida ajuda a aliviar a carga sobre a família. E, para Alexandre Busse, essa decisão é infinitamente melhor do que revezar os cuidados entre os filhos, quando a opção é levá-lo de uma casa para outra, de tempos em tempos.
 “Isso provoca muitas alterações de comportamento, como agitação e dificuldade para dormir. O ideal é que o cuidador seja trocado, mas o ambiente permaneça o mesmo”, diz. O cuidador profissional precisa ter formação no trato com idosos, o ideal é que tenha feito cursos em instituições especializadas. “Deve-se exigir qualificação, pontualidade, responsabilidade, ética, discrição e sensibilidade com o idoso”, diz Sandra Rabello.
Caso a família já tenha esgotado todas as possibilidades de manutenção da pessoa idosa no ambiente familiar, há, ainda, a opção de institucionalizar o idoso. Nesse caso, o melhor é buscar uma instituição respeitada e com profissionais qualificados na área.
(Autoras: Marina Oliveira e Suzel Tunes)
(Fonte: estilo.uol.com.br )

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

‘Filhos têm obrigação de cuidar dos pais idosos’, afirma advogada

Edição do dia 18/05/2010
18/05/2010 00h00 - Atualizado em 11/12/2012 10h54
Antonieta Nogueira avalia caso de Dona Pipi, de 78 anos, mostrado no último episódio de ‘O conciliador’, com Max Gehringer.
A advogada Antonieta Nogueira é especialista em direito do idoso. Ela deu mais informações sobre o tema abordado no último episódio de "O conciliador": o dever dos filhos em relação aos pais idosos. Antonieta explica o que diz o Estatuto do Idoso.
“O Estatuto do Idoso só veio confirmar algumas atribuições que já existiam na Constituição Federal, com referência à responsabilidade dos filhos e os cuidados dos pais. Uma determinação que se tem: que os pais ajudam e são responsáveis na criação dos seus filhos e, em contrapartida, os filhos amparam seus pais na velhice. Qualquer contrariedade no sentido de colocar o pai num asilo, ou promover maus tratos ou qualquer ofensa física, verbal ou moral, isso é punido. Sobre a questão do abandono, a pessoa não necessariamente precisa abandonar o idoso. O abandono pode ser caracterizado pelo simples fato de se chegar ao imóvel, constatar que o idoso não está sendo medicado adequadamente ou se ele não está tendo a higiene adequada. Isso já é uma questão de abandono”, explica Antonieta Nogueira.
A advogada avaliou também o caso de Dona Pipi, de 78 anos, apresentado no último domingo (16). “A princípio, a vontade do idoso deve ser sempre respeitada. Nesse caso específico, trata-se de uma idosa consciente e lúcida. Ela tem condições de fazer sua opção. O excesso de zelo dos filhos não está indo ao encontro da vontade da idosa. Às vezes, por excesso de amor, os filhos pecam um pouco e não atendem à necessidade principal que é a vontade dela. Dona Pipi tem um companheiro, e ela tem essa preferência de ficar ao lado do companheiro. Há uma diferença muito grande, sobretudo nessa fase da vida, na questão do afeto: o afeto que ela recebe dos filhos e do companheiro é diferenciado. Nada impede que os filhos, mesmo distante delas, prestem auxílio a ela, de maneira que Dona Pipi permaneça em seu lar. Ao menos que ela não tivesse condições para isso. Se ela estivesse numa situação de dependência, aí seria outro caso – inclusive, de os filhos ingressando em juízo”, disse.
Sobre a mediação com idosos, Antonieta Nogueira ainda destaca: “A cautela que nós temos é uma avaliação de toda a estrutura familiar. O que ele conquistou até hoje chegando nessa trajetória da vida, qual a relação afetiva que ele tem com o patrimônio e com a cultura e qual o nível de conhecimento dele para a gente chegar numa negociação. O que nós vamos respeitar numa negociação é essa diferença entre gerações. Os valores atribuídos na geração atual são muito diferentes dos valores atribuídos na geração anterior. É essencial que se tenha esse olhar na hora de fazer a avaliação numa negociação”. 
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